Precisamos falar sobre a Segurança das Comunicações nas Forças Armadas

Ana Carolina de Oliveira Assis

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04/06/2021

Em dezembro de 2020 foi realizado o primeiro teste do enlace de dados Link BR2 em uma aeronave da Força Aérea do Brasil. No mês de setembro do mesmo ano, a empresa responsável pelo projeto, a Mectrom Comm pertencente ao Grupo Ael Sistemas, já demonstrava os avanços no programa, o que permitiu meses depois realizar o ensaio do vôo da aeronave F-5M equipada com a nova tecnologia (FAB, 2020a; 2020b).

 Em comentário ao feito, o Comandante da Aeronáutica informou que “O Link-BR2 realmente vai ser um divisor de águas nas comunicações mais modernas, de dados e de voz, que muito contribuirá com os exercícios e operações que são realizados pelas nossas Forças: Marinha, Exército e Força Aérea” (FAB, 2020b, p.1). Mas o que representa essa tecnologia no meio militar?

O Link BR2, refere-se a um tipo de enlace de dados chamado datalink, ou seja, de um sistema de emissão e receptação de dados entre distintos pontos de uma força, a exemplo de um sistema de armas ou até mesmo de um soldado em terra. Segundo Bernardon (2014), o Link BR2 é uma tecnologia que utiliza os princípios da guerra centrada em redes (network centric warfare) e tem por finalidade incrementar a consciência situacional das forças e a troca de informações (além de torná-la mais segura) nas Forças Armadas. Em termos práticos, seu funcionamento estaria próximo ao esquema apresentado a seguir:

Figura 1 - Esquema do Link BR2

Fonte: (SANTANA,2020, p.56).

As informações trocadas através desse sistema estão relacionadas por exemplo, a identificação, velocidade, posição ou direção de instrumentos militares e serve também para compartilhamento de imagens, mensagens de texto, de áudio, e de informações sobre a meteorologia – itens fundamentais para coordenação das forças em cenários diversos (BERNARDON, 2014). 

O debate sobre a incorporação desse tipo de tecnologia não é totalmente recente. Na década de 1990 a Força Aérea do Brasil havia encaminhado uma proposta para incorporação do datalink, e ao longo da década passada já se discutiam nos meios acadêmicos e militares sobre as possibilidades e entraves para utilização do enlace de dados Link BR2 (BERNARDON, 2014; ASSIS, SANTANA, 2017; SANTANA, 2020).

Entre as vantagens elencadas para utilização desse sistema estavam: o fato da produção do sistema ser de origem totalmente nacional, o que gera autonomia para o setor e maior segurança – uma vez que trata de informações sensíveis; também de ordem econômica, a utilização do sistema viabiliza a racionalização dos meios disponíveis para pronto emprego; além de vantagens táticas e estratégicas no contexto de guerra centrada em redes através da ampliação da consciência situacional e interoperabilidade entre as diferentes forças (ASSIS, SANTANA, 2017).

Por outro lado, os óbices até então encontrados eram: os entraves inerentes a sistemas novos, ou seja, em relação ao tempo para desenvolver a tecnologia e torná-la viável para utilização; e problemas orçamentários, esses recorrentes em projetos estratégicos no Brasil, o que leva à flutuação nos investimentos empregues e, por consequência, gera atrasos na entrega de equipamentos (ASSIS, SANTANA, 2017).

Entretanto, recentemente os brasileiros envolvidos no setor superaram as expectativas pessimistas e deram um salto no setor de guerra eletrônica e na segurança de suas comunicações. A utilização dessa tecnologia já é presente em Forças Armadas de outros países, a exemplo de Estados Membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte, e a incorporação no Brasil representa um avanço para as Forças Armadas no cenário militar internacional.

A incorporação do Link BR2 à Força Aérea do Brasil é um passo importante para evolução nos sistemas de comunicação utilizados pelos militares no país. Entretanto, ainda há que se desenvolver mais profundamente o debate sobre a importância do emprego desse tipo de tecnologia para o setor de defesa, também sobre quais tipos de datalink devem ser utilizados. Ademais é indispensável discutir e planejar como e quando serão unificados os sistemas nas diferentes forças a fim de fortalecer operações em rede, promover a interoperabilidade, e dificultar incursões inimigas.


REFERÊNCIAS

AGÊNCIA FORÇA AÉREA (FAB). Projeto Link-BR2 é apresentado em Porto Alegre (RS): tecnologia vai permitir que aviões da fab troquem dados entre si em pleno voo. Tecnologia vai permitir que aviões da FAB troquem dados entre si em pleno voo. 2020a. Disponível em: https://www.fab.mil.br/noticias/mostra/36436/TECNOLOGIA%20-%20Projeto%20Link-BR2%20%C3%A9%20apresentado%20em%20Porto%20Alegre%20(RS). Acesso em: 10 jan. 2021.

ASSIS, Ana Carolina de Oliveira; SANTANA, Sérgio. Sistema de comunicações militares no Brasil e o link BR2: vantagens e entraves para integração nas forças armadas do país. In: XVII CICLO DE ESTUDOS ESTRATÉGICOS., 2017, Rio de Janeiro. Anais do XVII Ciclo de Estudos Estratégicos . Rio de Janeiro: Eceme, 2017.

BERNARDON, Sandro. Guerra Eletrônica nas Comunicações: entendendo o link br2. Spectrum: Rrvista do Comando-Geral de Operações Aéreas, São José dos Campos, v. 17, n. 1, p. 56-63, set. 2014.

FORÇA AÉREA BRASILEIRA (FAB). FAB realiza Campanha de Ensaio em Voo com Link-BR2 embarcado no F-5M: sistema permitirá a comunicação, em tempo real, entre vetores aéreos e estações de comando e controle. Sistema permitirá a comunicação, em tempo real, entre vetores aéreos e estações de Comando e Controle. 2020b. Disponível em: https://www.fab.mil.br/noticias/imprime/36723/. Acesso em: 18 jan. 2021.

SANTANA, Sérgio. Link BR2: o enlace de dados do brasil. Revista Força Aérea, Rio de Janeiro, v. 126, n. 1, p. 49-59, out. 2020.


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