Tensões entre Índia e China e as consequências tecnológicas

Gabriela Araújo Tabosa de Vasconcelos 

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27/09/2021

Índia e China são civilizações milenares que coexistem há muito tempo, no entanto, numa perspectiva da História Contemporânea, estabeleceram relações diplomáticas em 1950. Nesse período, surgiram algumas tensões no tocante à divisão territorial que remetem ao processo de independência da Índia do domínio britânico.

Dentre as desavenças entre ambos, temos a questão do Paquistão. Este surgiu pouco antes da desocupação britânica e foi criado para albergar a população muçulmana que vivia na Índia mas que não se sentia representada no meio de uma maioria hindu. Porém, a Índia não gostou de perder parte de seu território com a criação deste novo país, perdeu também, nesta mesma empreitada, a nação que hoje é conhecida como Bangladesh (MARSHALL, 2015).

A China, por outro lado, tomou proveito do recém-criado Paquistão, investindo em infraestrutura para o país, como forma de aumentar seu poder de influência na região e contrabalancear o poder da Índia. Recentemente, o governo chinês investiu cerca de 60 bilhões de dólares na construção de uma rodovia que liga a China ao Paquistão, de modo a facilitar o transporte de mercadorias até o porto de Gwadar, no sul do Paquistão, o que de certa forma, amplia a presença chinesa no mar da Arábia (NATARAJAN, 2020).

Em 2020, foi amplamente noticiado em jornais mundo afora de um conflito, com possíveis mortes entre militares, no Vale de Galwan, na região de Ladakh. A disputa fronteiriça é centrada na área da Caxemira, que é reivindicada por Índia, China e Paquistão.

Ambos os gigantes asiáticos investem em estruturas de defesa no local, tais como trincheiras, rodovias, movimentação de artilharia, etc. Assim, o conflito armado, segundo a China, ocorreu após a Índia construir uma estrada entre o local e uma base aérea de alta altitude que já existia. Ato que o governo chinês encarou como uma provocação (NATARAJAN, 2020).

Após este incidente, a Índia proibiu uma série de sites e aplicativos chineses de funcionarem em seu território, alegando preocupações com a segurança digital e a soberania do país. O governo indiano argumentou que houve um suposto envio de dados de usuários de aplicativos chineses para Android e IPhone para localizações além das fronteiras nacionais (G1, 2020).

Com a intenção de melhorar a monitorização e segurança cibernética, a Índia ativou em 2019, a Defense Cyber Agency. Trata-se de uma instituição subordinada ao Integrated Defense Staff (IDS), e criada para lidar com as ameaças oriundas do espaço cibernético. O novo órgão, que terá centrais de operação espalhadas por todo o país, reunirá talentos das três vertentes das forças armadas, sejam: exército, marinha e aeronáutica (PTI, 2020).

Com a deterioração das relações diplomáticas entre China e Ìndia, ciber-ataques têm se mostrado mais evidentes, como a falta de luz na populosa Mumbai em outubro de 2020, que fechou ferrovias, bolsa de valores, hospitais, etc por várias horas. Há temores no governo indiano de que tais ataques danifiquem, futuramente, sistemas de trânsito, suprimento de água e outros serviços essenciais. Especialistas afirmam que mais de 50 mil ataques desta natureza foram orquestrados pela somente pela China, ou seja, sem levar em conta ataques de outros países (AIM, 2021).

Segundo Nye (2012), o espaço cibernético não vai substituir o espaço geográfico nem abolir a soberania do Estado, mas, como os mercados das cidades nos tempos feudais, vai coexistir e complicar muito o conceito de Estado soberano no século XXI. Nesse sentido, os Estados continuarão a ser os atores dominantes nas relações internacionais, embora precise, cada vez mais, atuar na arena no ciberespaço para difundir o seu poder.

Temos, portanto, que essa “nova” forma de guerra e demonstração de poder é uma extensão do conceito tradicional de guerra e conflito, por vezes menos custosa e mais efetiva do que seu antecessor. Ou seja, as desavenças entre Índia e China, antes levadas a cabo por meio de confrontos diretos com soldados e armamentos, tendem a ser substituídas por ataques no ciberespaço, de modo a prejudicar o funcionamento dos diversos serviços necessários ao país vitimado.


Referências Bibliográficas

AIM. Can India Stand Up To China’s Cyber Warfare? 2021. Analytics India Magazine. Disponível em: https://analyticsindiamag.com/can-india-stand-up-to-chinas-cyber-warfare/. Acesso em: 27 jun. 2021.

Depois de TikTok, Índia proíbe mais 100 aplicativos chineses. 2020. Economia/Tecnologia. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/tecnologia/noticia/2020/09/02/depois-de-tiktok-india-proibe-mais-100-aplicativos-chineses.ghtml. Acesso em: 26 jun. 2021.

MARSHALL, Tim. Prisoners of Geography:: ten maps that tell you everything you need to know about global politics. London: Elliott & Thompson, 2015.

NATARAJAN, Swaminathan. China e Índia:: o que há por trás da escalada de tensão que deixou 20 soldados mortos em choque na fronteira. o que há por trás da escalada de tensão que deixou 20 soldados mortos em choque na fronteira. 2020. BBC World Service. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-53073587. Acesso em: 26 jun. 2021.

NYE, Joseph S.. Cyber War and Peace. 2012. Belfer Center of Science and International Affairs. Disponível em: https://www.belfercenter.org/publication/cyber-war-and-peace. Acesso em: 27 jun. 2021.

PTI. India in final stages of setting up Defence Cyber Agency. 2020. The Week. Disponível em: https://www.theweek.in/wire-updates/national/2019/01/15/cal12-def-cyber%20agency.html. Acesso em: 27 jun. 2021.


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